sábado, 2 de junho de 2012

Comment te dire adieu (1968)


Em outubro de 1967, Françoise Hardy encara participar de mais um festival de música. Desta vez, o escolhido foi o Festival Internacional da Canção (FIC), no Rio de Janeiro, no Brasil. Isto mesmo! Na 3ª edição do famoso festival brasileiro, o Brasil recebeu Françoise e outros cantores estrangeiros representando seus países, como Antoine, que representava Luxemburgo.

O resultado final do concurso já é bem familiar para os brasileiros – o primeiro lugar foi obtido por Tom Jobim e Chico Buarque, com a música Sabiá. Françoise, que defendeu À quoi ça sert?, de sua autoria, que recebeu o troféu Galo de Ouro. A cantora se encantou com a canção vencendora e pediu a Franck Gérald para fazer uma versão em francês. La mésange estaria inclusa no álbum que sairia no fim de 1968. Até então, o disco já tinha duas músicas selecionadas.

 Hardy e o troféu Galo de Ouro, ganho no III Festival 
Internacional da Canção, no Rio de Janeiro

Uma curiosidade é que, até então, no Brasil, os discos de Françoise – desde Tous les garçons... até La maison où j’ai grandi – eram editados iguais às edições francesas. No entanto, Ma jeunesse fout le camp não chegou ao Brasil. Em 1968, chegou às lojas de discos brasileiras o LP À quoi ça sert. O disco inclui uma versão especial da música, feita para o FIC, algumas canções do Ma jeunesse..., como a faixa-título, Des ronds dans l’eau e La fin de l’été, e músicas que apenas ficaram restritas em compactos na França, como Je ne sais pas ce que je veux, La Terre, e Je fait de lui en revê. A capa do álbum é uma foto retirada do filme Grand Prix.

 Capa e contracapa do LP brasileiro À quoi ça sert

A criação do álbum Comment te dire adieu é bastante curiosa e repleta de histórias. Françoise Hardy, na época, escutou na casa de um de seus editores uma música americana chama It hurts to say goodbye. Desde então, ela começou a procurar um letrista interessado em escrever uma versão francesa da música.  Eis que alguém a aconselhou a procurar Serge Gainsbourg. Famoso por suas composições polêmicas, Gainsbourg já havia escrito para artistas renomados, como Michèle Arnaud, Juliette Gréco, Petula Clark e France Gall. Feita a proposta, o músico topa o desafio. Ele teve a ideia de acelerar o ritmo da música e separar as palavras pela sílaba “ex”. Pouco a pouco, ele começou a formar as partes cantadas de Comment te dire adieu. “Na loucura do momento, ele ainda me ofereceu mais uma música: L’anamour. Eu fiquei muito honrada. Os textos dele eram geniais, cheios de inspiração, de descobertas e de sonoridades”, afirmou Hardy, certa vez, em entrevista com Gilles Médioni, divulgada em L'Express, em 23 de fevereiro de 2006. Comment te dire adieu se tornou um grande sucesso no ano de 1969. Classificada no topo do hit parade, ela dá uma guinada na carreira de Françoise Hardy. 

Interpretação de Françoise Hardy para Comment te dire adieu 
em canal de TV britânico, em 1968 

Além da faixa que se tornou o título do disco e de Sabiá, o álbum inclui versões francesas de There But For FortuneOù va la chance -, Lonesome townLa rue des coeurs perdus -, Suzanne –  de Leonard Cohen –, e The way of LoveParlez moi de lui, que foi gravada em 1966 por Dalida. No mais o disco inclui uma canção de Rivière e Bourgeois, uma de Françoise, La mer, les étoiles et le vent, e uma do amigo Patrick Modiano que acabou obtendo sucesso considerável nas rádios,"Um jovem, Hugues de Courson, marcou um encontro comigo para saber se eu estava interessado em gravar algo dele. No entanto, nada me agradou. Desesperado, ele implorou para que eu ouvisse só mais uma canção. Era Étonnez-moi, Benoît. Apesar de não ser muito meu estilo, achei muito original e autêntica e decidi gravá-la. A letra era de Patrick", conta Hardy.
 

 Françoise canta no especial fim de ano francês Surprise Partie, em 31 
de dezembro de 1968. Repertório: À quoi ça sert, Où va la chance e Suzanne


Infelizmente, no ano de 1968, Françoise se aposenta precocemente das apresentações ao vivo, de modo que as realizadas naquele ano são as últimas de sua carreira. Em fevereiro, ela faz performances em universidades britânicas: Brighton, Cambridge, Liverpool, Durham, Birmingham, Southampton, entre outras. Além disso, ela peripla a África do Sul de 26 de fevereiro a 16 de março, com shows em Prétoria, Johannesburgo, Durban e Cidade do Cabo.

A partir de 22 de abril, uma última turnê de noites no Hotel Savoy de Londres se tornou a despedida da cantora aos palcos. O estilista Paco Rabanne a veste para a ocasião com uma impressionante combinação metálica que causou sensação no público e na imprensa. O costureiro aproveita a colaboração para fazer a cantora vestir o minivestido mais caro do mundo. Feitos de plaquetas de ouro encrustadas de diamantes, o modelito foi usado por Françoise na inauguração da Exposição Internacional de Diamantes, em 15 de maio. 

À esquerda, Françoise Hardy posa usando o minivestido mais caro do mundo, criado por Paco Rabanne.
 À direita, a cantora aparece ao lado de Salvador Dalí, na Exposição Internacional de Diamantes de 1968
  
Enquanto isso, os estudantes protestavam nas ruas de Paris no polêmico Maio de 1968. Diante dos acontecimentos de tal magnitude, a produta a aconselha Hardy a se afastar da capital. Ela então vai para sua casa na Córsega, na companhia de Jacques Dutronc. Eis que então aumentam os rumores de seu desejo de sair de cena do lançamento de Comment te dire adieu se propaga. Na realidade, a cantora dá fim às turnês como uma oportunidade de não se atrapalhar na vida particular, e passa investir unicamente nas gravações fonográficas.


 1. Comment te dire adieu (It hurts to say goodbye) (Serge Gainsbourg - Arnold Goland)
2. Où va la chance (There but for fortune) (Eddy Marnay - Phil Ochs)
3. L'anamour (Serge Gainsbourg) 
4.  Suzanne (Graeme Allwrigth - Leonard Cohen)
5. Il n'y a pas d'amour heureux (2ª versão) (Louis Aragon - Georges Brassens)
6. La mésange (Sabiá) (Antonio Carlos Jobim - Chico Buarque)
7. Parlez-moi de lui (The way of love) (Michel Rivgauche - Jack Diéval)
8. À quoi ça sert? (Françoise Hardy)
9. Il vaut mieux une petite maison dans la main qu'un grand château dans les nuages (Jean-Max Rivière - Gérard Bourgeois)
10. La rue des coeurs perdus (Lonesome town) (Pièrre Delanoë - Thomas Baker Knight)
11. Étonnez-moi, Benoît! (Patrick Modiano - Hugues de Courson)
12. La mer, les étoiles et le vent (Françoise Hardy)

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